terça-feira, 5 de junho de 2007

Ninja ZX12R, a diabólica (Parte II)

E assim o que importa dizer é que a Ninja 12 é um estrondo de mota! Tem uma perfomance tão fabulosa e única que dificilmente encontrarás melhor. E comparando com a Hayabusa só tenho a dizer: é o exemplo perfeito de como duas máquinas conseguem de maneiras tão distintas dar exactamente o mesmo nível de adrenalina e emoção, em quantidade e qualidade. Em termos de performance a 12 é completamente diferente da Busa, mas é mais uma diferença de carácter e personalidade, do que uma diferença para melhor ou para pior. E isso é importante na hora de escolher uma das duas: perceber qual delas combina melhor com a tua personalidade, com a tua forma de conduzir, e em qual delas tu conseguirás tirar o melhor motard que há em ti. Aí, pois claro, haverá um vencedor para cada um.

Para o Ninjabroder que tem uma 12 há 4 anos, com 26 mil kms, e umas mexeditas que lhe sacaram mais potência do 1200cc, ainda hoje ao andar nela não acredita que haja qualquer outra mota capaz de a igualar em aceleração e binário. Para mim que já andei várias vezes nessa 12 tenho a dizer que fico parvo cada vez que lhe abro o punho. Se na Busa a potência aparece como um pontapé na cara, na 12 é a elasticidade do motor que me parte a cabeça toda. Aquilo é um demónio que não se revela à primeira torcida de punho. Vai-se revelando.

Testes a Ninjas 12 em banco de ensaio revelaram uma potência de aproximadamente 163cv na roda quase às 10 mil rotações. Isto confirma a sensação quando se conduz de ser um motor pontudo. É quando as rotações começam a subir que o demónio destapa a cara toda e mostra uma fúria de fazer homens grandes borrarem-se pelas pernas abaixo. Imaginem só +190cv que aparecem em todas as mudanças, até em 6ª com toda a fúria perto do redline (11 mil). Como diz o Ninjabroder “é preciso conhecê-la de coração para saber domar a besta”. E ter barba rija, acrescento eu.

Ao saltar para cima da bicha nota-se logo que é alta. O quadro monocoque é no mínimo uma solução original. Agarra o motor numa posição elevada, logo o centro de gravidade não é baixo. Mas a posição de condução até é bastante confortável para uma “R” . O banco é espaçoso, as pernas não vão demasiado encolhidas e o peso do tronco não vai todo em cima dos pulsos. O ecrã protege bem mais que o da Busa. Para fazer velocidades de cruzeiro de +250km/h uma pessoa vai menos encolhida que na Busa. Mas o banco é rijo e isso nota-se bem ao fim de um dia de viagem. E a propósito de um dia de viagem, a 12 tem fama e proveito de ser sedenta de gasosa. Em boa verdade a ideia que tenho quando eu e o Ninjabroder nos juntamos em passeatas é que esvaziamos os depósitos (21L ambos) mais ou menos em simultâneo. E a Busa até faz umas boas médias tipo 7l/100km com um abuso relativo.

Também não é menina que goste de passear pacatamente na cidade ou entre carros, apenas porque o motor vai estar sempre a pedir rotações, porque serpenteá-la até se faz bem. Maior problema é se começar a aquecer, nessa altura há duas ventoinhas que vão libertar um inferno direitinho a ti.

Mas vamos lá ver! Aquilo que define a Ninja é ser uma mota racing em todos os aspectos, não um racing de pista tipo uma Ducati 999R, mas sim um espírito racing que se nota logo que começas a andar. Ela não gosta de andar devagarito, ela gosta que puxem por ela até ao limite. Seja pelo motor, seja pelo chassis a curvar. E se o tentares fazer, ela recompensa-te com um limite fora do alcance do comum dos mortais. Estrada aberta e curvas, é o que ela te vai pedir. Aí, numa palavra, é: alucinante.

Para o tamanho que tem é uma mota super equilibrada, ao ponto de não ter nem precisar de amortecedor de direcção, o que para uma mota com 208kgs e +190cv que voa e curva assim tão rápido é dizer muito. Mas as boas sensações que a Ninja transmite não aparecem logo. Logo, logo, quando lhe saltas para cima, parece uma mota nervosa, alta que, a baixa velocidade, até nem parece ter muita vontade de se deitar, como se houvesse ali uma certa resistência. É quando a paisagem começa a ser um borrão colorido que começas a perceber o mundo de performance que tens nas mãos. Para domá-la em pista, ou em curvas apertadas tipo serra precisas de garras de ninja, mas vais conseguir ser rápido. Ao longo dos anos o chassis da 12 tem sido merecido de alguma imprensa especializada o galardão de ser mais competente que o da Hayabusa. À semelhança do motor, é a puxar pelo chassis que se nota a sua grande eficácia. É duro de uma maneira que transmite segurança, em curva e a qualquer velocidade absurda que decidas dar. E é nessa altura que te vais sentir mais confortável nela. Isso é o verdadeiro “milagre” que a Ninja consegue sacar. Quem diria que é a 280km/h que te sentes bem nela, ou a 120 numa curva apertada que deverias fazer a 60, ou a 240 numa curva que deverias fazer a 100!!!! Parece mal estar a falar a falar destas velocidades mais que ilegais? Só tenho a dizer que foi para isso que esta mota foi feita e é a esse nível que ela opera melhor, que transmite ao condutor o melhor que tem para dar. A esse nível o condutor sente que a mota está confortável, segura e sente até que tem muito mais para dar. É estupidamente ilegal, mas não se enganem quem tiver uma 12 mais tarde ou mais cedo vai ver-se numa situação desse género.

Quanto à travagem é um verdadeiro assombro. Esqueçam o travão de trás. É o da frente que manda tudo. É só um cheirinho com um dedo e uma pequena mordidela faz parar o monstro. Os Tokico de 6 êmbolos têm a sensibilidade de um mamilo arrepiado, reagindo sempre ao mais leve toque. E isso faz toda a diferença na hora de ter confiança para domar a besta.

Acredita que é demónio para te pregar uns sustos, não é mota para iniciados. Isso pode acontecer quando a pessoa que a conduz começa a experimentar esticar-se mais. Não é que ela tenha reacções bruscas ou inesperadas, é a velocidade que tu atinges que te pode apanhar desprevenido, ou então se não souberes muito bem o que estás a fazer. Se não a conheces vai avançando com todos os preliminares, e então sim ela vai te recompensando com performances muito além das tuas capacidades.
E para além disso saca cavalos que é uma maravilha. Aquilo deve ser melhor que chocolate porque cada vez que saio com o meu cunhado em 100 kms, 50 a roda da frente vai no ar! (E olhem que o Ninjabroder gosta mesmo de chocolate!)

Meu amigo, o reinado da Ninja 12 seja lá ele qual for será definitivamente delapidado pela ZZR 1400, é comercialmente inevitável. Já quase não se vêem nas ruas, nem sequer no Algarve onde as Kawas dominam a olhos vistos as ruas. E isso poderia querer dizer que esta conversa toda veio tarde.
Mas, e isto é um grande “mas”, se pensares bem é provavelmente uma boa altura para comprar uma. É de esperar que o preço dela nova nos stands baixe um pouquito face à ZZR 1400 e à GTR que aí vem e, por outro lado, se encontrares uma Ninja 12 à venda em segunda mão com poucos kms que saibas que é de absoluta confiança vais conseguir negociar um bom preço para ti. A única recomendação é teres um mecânico de confiança que lhe faça toda a manutenção certinha, e então ó meu amigo, nem penses duas vezes!, será provavelmente uma das maneiras mais baratas de teres uma mota com as melhores perfomances do mundo. Ou por outras palavras, uma maneira acessível de poderes mostrar ao mundo que tens uns tomates grandes. Muito grandes.

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